Ozempic e Emagrecimento: Transformação e Controvérsia na Nutrição
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Ozempic e Emagrecimento: Transformação e Controvérsia na Nutrição

Poucos medicamentos se tornaram tão rapidamente parte do imaginário coletivo quanto o Ozempic. Originalmente desenvolvido para tratar diabetes tipo 2, o remédio se popularizou como uma solução aparentemente simples para a perda de peso.

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Poucos medicamentos se tornaram tão rapidamente parte do imaginário coletivo quanto o Ozempic. Originalmente desenvolvido para tratar diabetes tipo 2, o remédio se popularizou como uma solução aparentemente simples para a perda de peso — e hoje simboliza tanto esperança quanto polêmica.

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Em uma entrevista recente, a nutricionista britânica Rhiannon Lambert, autora best-seller e reconhecida por seu trabalho à frente da clínica Rhitrition, ofereceu uma visão ponderada sobre esse fenômeno global que vai muito além das seringas.

O Medicamento que Virou Mainstream

O avanço meteórico do Ozempic mostra como um tratamento específico pode rapidamente se tornar um símbolo cultural. Hoje, o remédio está em todas as redes sociais — do TikTok ao Instagram — onde circulam relatos entusiasmados de perda de peso e, ao mesmo tempo, críticas severas de quem acusa os usuários de estarem "trapaceando". Celebridades que não sofrem de obesidade severa admitem usar o medicamento com objetivos meramente estéticos, alimentando uma indústria paralela. Para Lambert, essa normalização é tão fascinante quanto preocupante. "Chegamos ao ponto em que ser medicado parece normal", observa ela.

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Ozempic e Emagrecimento: Como Funciona e o Que Ainda Não Sabemos

Na prática, o Ozempic pertence à classe dos agonistas do GLP-1, hormônios que aumentam a sensação de saciedade e ajudam a reduzir o apetite. É por esse mecanismo que tantos pacientes relatam a perda de dezenas de quilos em poucos meses. No Reino Unido, ensaios clínicos vêm investigando não apenas os efeitos da forma injetável, mas também uma versão em pílula, que pode chegar ao mercado até 2026.

Apesar do entusiasmo, Lambert alerta: "Nós não temos dados de longo prazo. Não sabemos o que acontece com alguém que fica dez anos usando isso." O desconhecimento a respeito dos impactos prolongados reforça o caráter experimental dessa nova era farmacológica — algo que muitos consumidores parecem esquecer em meio à euforia.

Benefícios Reais e Impacto na Saúde Pública

Embora a popularização entre celebridades cause polêmica, há incontáveis histórias de pessoas em situação crítica que encontraram no Ozempic uma oportunidade de recuperar saúde e autoestima. "Ninguém escolhe estar com obesidade severa", enfatiza Lambert. Muitas vezes, o quadro envolve dificuldades psicológicas profundas, ambiente alimentar desfavorável e falta de suporte emocional.

Para muitos pacientes, Ozempic e emagrecimento se tornaram inseparáveis na busca por saúde e qualidade de vida.

Para esses casos, os benefícios não são apenas estéticos: estudos mostram que a redução de peso pode diminuir o risco de câncer, doenças cardiovasculares e outras comorbidades associadas à obesidade. Isso gera expectativa de que, no médio prazo, o uso controlado do medicamento ajude a reduzir gastos astronômicos do sistema público de saúde com tratamentos de doenças crônicas.

Os Limites do Efeito

O remédio, no entanto, não é uma solução mágica. A maioria dos pacientes atinge um platô após certo período de uso. Sem acompanhamento nutricional e mudanças reais de hábitos, a interrupção do tratamento tende a gerar ganho de peso parcial ou total — além de reações adversas que incluem náuseas severas e episódios de depressão clínica.

Lambert compartilha que, mesmo no seu consultório, onde o monitoramento é rigoroso, observa ciclos de efeito sanfona quando a medicação é usada de maneira isolada. "Se você não tem educação nutricional e acaba restringindo demais, ao interromper, muitas vezes o peso volta a subir", explica. Para ela, o sucesso depende tanto do acompanhamento profissional quanto da disposição do paciente em enfrentar mudanças comportamentais complexas.

O Mercado Paralelo e os Riscos Éticos

Um dos pontos mais alarmantes apontados pela nutricionista é o crescimento de um mercado paralelo que oferece Ozempic a qualquer pessoa disposta a pagar. Lambert participou da produção de um documentário para o Channel 4 que investigou clínicas privadas que vendem o medicamento sem qualquer triagem adequada. "A pessoa vai lá, paga, e todo mês compra mais — mesmo que não precise", relata.

Essa comercialização indiscriminada aprofunda desigualdades de acesso e reforça a percepção de que o remédio pode ser utilizado como um simples atalho para emagrecimento estético, deslocando o debate do campo da saúde pública para o do consumo impulsivo.

Para Onde Estamos Indo?

Outro aspecto que chama atenção é a integração do uso de Ozempic com gadgets e plataformas de monitoramento corporal, como anéis inteligentes e aplicativos de registro de saúde. Para Lambert, essa tendência indica que estamos nos tornando uma sociedade que prefere "band-aids" tecnológicos a enfrentar causas estruturais — como o sistema alimentar que promove ultraprocessados e o sedentarismo.

Essa "cultura do corpo perfeito", impulsionada por soluções farmacológicas cada vez mais acessíveis, coloca em xeque nosso entendimento coletivo sobre saúde, bem-estar e responsabilidade individual. A pergunta que fica, segundo Lambert, é: "Vamos ficar só tomando pílulas para emagrecer?"

Concluindo

O Ozempic simboliza tudo o que há de mais avançado — e de mais controverso — na medicina contemporânea. Ao mesmo tempo que pode transformar vidas de quem sofre com obesidade severa, carrega riscos desconhecidos e alimenta uma nova onda de consumo indiscriminado, que muitos veem como sintoma de uma sociedade ansiosa por resultados imediatos.

O debate sobre Ozempic e emagrecimento está apenas começando, e ninguém sabe ao certo como ele irá evoluir nos próximos anos.

Rhiannon Lambert não toma partido: "Eu não sou contra nem a favor do Ozempic. Eu só preciso ver o que vai acontecer nos próximos cinco anos." Essa postura de cautela talvez seja o convite mais sensato que se possa fazer. Diante de uma transformação tão veloz, cabe a cada um refletir sobre quais atalhos valem a pena — e o que estamos dispostos a sacrificar em nome da pressa.

Este é apenas o começo da reflexão sobre os impactos culturais, sociais e pessoais do uso de medicamentos para emagrecer. Continue navegando para ter uma visão completa do tema.

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#Ozempic#Emagrecimento#Nutrição#Controvérsia#Medicamento#Perda de peso

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