
Ozempic, Mounjaro e a Nossa Relação com a Comida: Quando Comer Vira um Problema
Entenda como ozempic e mounjaro afetam nossa relação com a comida e por que transformar o ato de comer em problema pode ter custos invisíveis.
O Novo Papel dos Medicamentos no Ato de Comer
Durante séculos, a alimentação foi um espaço de significado cultural, prazer e encontro. Mas, em poucos anos, medicamentos como o Ozempic e, mais recentemente, o Mounjaro transformaram a ideia de comer em algo que muitos sentem necessidade de controlar com rigidez — ou até de suprimir. Embora esses tratamentos tragam benefícios reais, especialmente em casos de obesidade severa, eles também levantam perguntas desconfortáveis sobre como passamos a enxergar a comida como uma ameaça constante.
O Funcionamento e o Efeito da Supressão do Apetite
A base de ação dessas medicações é relativamente simples: ativam hormônios que aumentam a saciedade e reduzem o apetite. Tanto o Ozempic quanto o Mounjaro podem ser libertadores para quem convive com compulsão alimentar e riscos metabólicos elevados. Uma pesquisa publicada em 2021 no New England Journal of Medicine mostrou que pacientes que usaram semaglutida (presente no Ozempic) tiveram perda de peso significativa e relataram melhora na qualidade de vida. Para muitas pessoas, essa mudança pode representar não apenas saúde física, mas também esperança.
Quando Comer Vira Apenas um Problema Técnico
Ao mesmo tempo, existe um aspecto cultural raramente discutido com profundidade. O que acontece com nossa relação com a comida quando transformamos o ato de comer em um problema puramente técnico, passível de ser corrigido por uma injeção? A jornalista Bee Wilson, autora do livro First Bite, lembra que a maneira como nos alimentamos está ligada a memórias, identidade e laços afetivos. Quando a alimentação passa a ser vista somente como algo a ser superado, perde-se parte essencial da experiência humana.
Essa tendência de medicalizar o comer não começou com o Ozempic ou o Mounjaro. Há décadas, a cultura das dietas ensina que comer deve ser motivo de culpa e vigilância. Mas a chegada de medicamentos que reduzem o apetite de forma tão intensa cria uma situação nova: a possibilidade de distanciamento físico e emocional do próprio desejo de comer. Para algumas pessoas, essa mudança pode levar a uma desconexão ainda maior e à dificuldade de reconhecer sinais básicos de saciedade ou prazer.
A Cultura Alimentar e os Custos Invisíveis
O risco não é apenas individual. Em uma sociedade que já promove refeições apressadas e produtos ultraprocessados, o uso massivo dessas medicações reforça a ideia de que comer bem é inviável sem intervenção farmacológica. O resultado pode ser uma cultura que trata o alimento apenas como um risco que precisa ser neutralizado.
É claro que não se trata de julgar quem faz uso do Ozempic ou do Mounjaro. A obesidade é uma condição complexa, com raízes biológicas, emocionais e sociais. Ignorar o sofrimento de quem encontra nesses medicamentos uma maneira de retomar a saúde seria injusto. Ao mesmo tempo, é importante refletir sobre os efeitos menos visíveis da sua popularização — principalmente quando começam a ser usados fora das indicações médicas ou como solução rápida para questões que exigem acompanhamento multidisciplinar.
A nutricionista e autora Rhiannon Lambert destacou esse ponto em entrevistas recentes: "Quando tornamos a comida algo que precisa ser superado, perdemos a chance de reaprender a comer de forma consciente." Essa perspectiva sugere que, embora medicamentos possam fazer parte da resposta, eles não deveriam ser a única.
Talvez a pergunta mais importante não seja se Ozempic e Mounjaro funcionam, mas que tipo de relação com a comida estamos construindo ao adotá-los como padrão. Se o futuro da alimentação depender apenas de suprimir a fome e anular o prazer de comer, corremos o risco de perder algo que vai além da nutrição: a experiência de pertencimento e significado que sempre acompanhou o ato de se alimentar.
Perguntas Frequentes sobre Ozempic, Mounjaro e Relação com a Comida
Como o Ozempic e o Mounjaro afetam o apetite?
Os dois medicamentos atuam em hormônios que regulam a saciedade, fazendo a pessoa sentir menos fome. Muitos pacientes relatam redução significativa do apetite, o que pode ajudar na perda de peso, mas também diminuir o prazer ao comer.
Tomar esses medicamentos significa que estou "trapaceando" na dieta?
Não. A obesidade é uma condição multifatorial que envolve genética, ambiente e saúde mental. Medicamentos como Ozempic e Mounjaro podem ser indicados por médicos como parte de um tratamento legítimo. O estigma associado é fruto de preconceitos culturais, não de fatos.
Existe risco de perder a conexão com o ato de comer?
Para algumas pessoas, sim. Como esses remédios podem reduzir muito a fome, pode ocorrer uma desconexão emocional com a alimentação. Por isso, o acompanhamento profissional é essencial para manter hábitos saudáveis e respeitar os sinais do corpo.
É seguro usar Ozempic ou Mounjaro apenas por questões estéticas?
O uso deve sempre ser orientado por um profissional de saúde. Embora haja pessoas que utilizem por motivos estéticos, essa prática não é oficialmente indicada e pode trazer riscos desconhecidos no longo prazo.
Se você quer entender ainda mais sobre como a cultura da pressa e o julgamento moral se conectam à alimentação, vale conferir outros conteúdos que completam esta discussão.
Por que a pressa virou padrão?
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